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terça-feira, 19 de maio de 2015

Casas com Alma Esquecida

Por todo o país se podem encontrar casas devolutas; na cidade de Lisboa, o flagelo é bem grande e hoje tornou-se no tema de conversa no Sótão da Gina, ao qual acabámos por intitular de Casas com Alma Esquecida.

Quando se passeia atentamente pelo campo, dá dó ver a quantidade de casas abandonadas à sua sorte, algumas de grande dimensão e opulência. Muitas terão certamente contribuído para a grande felicidade nas férias de muitas crianças de outros tempos. Amparadas apenas pela natureza, permanecem em pé até que essa mesma amiga natureza lhes vá permitindo, até que nada mais sobre que um amontoado de um resto de tudo e nada.

Casas com Alma Esquecida

Na cidade de Lisboa muito se poderia fotografar e escrever sobre as casas devolutas que foram abandonadas sem dó nem piedade e deixadas assim à sua sorte como que se nunca tivessem alma adentro.
Parámos em duas, muito perto entre si, vizinhas de prédios altos e modernos para que a sua pequenez seja ainda mais evidente.


Casas
 com
 Alma Esquecida
Reparámos em pormenores.

Fotografámos e imaginámos o que se teria passado entre aquelas paredes quando eram novas e cheiravam a tinta fresca.

Na casa de dois pisos, o nº 56 construída em 1873, em plena monarquia e reinado de D. Luís I, nesta casa que ainda hoje mostra orgulhosamente as iniciais (JRC) do seu ou sua proprietária, imaginámos as tertúlias à volta de uma simples taça de arroz doce acompanhada de um cálice de vinho do Porto, e conjecturámos o que levaria alguém abandonar esta casa deixando por lá as cortinas brancas-alvas nas janelas que outrora serviram de filtro entre os ocupantes em amena tertúlia e os olhares curiosos de quem pela rua passava. Que histórias guardarão aquelas paredes hoje sombrias e decrépitas, de alma esquecida, do século passado?

Não muito longe do nº56 ergue-se à sua sorte uma pequena casa cor-de-rosa, sem número de porta, mas pomposamente mostrando que também outrora tinha cortinas brancas-alvas. Aos transeuntes resta-lhes a curiosidade de ver as cortinas esvoaçarem por entre o entaipamento de tijolo e o exterior, imaginando o que aquela casinha cor-de-rosa hoje com a alma esquecida, contaria quando nela habitavam gentes com alma e vigor, num então desconhecido por quem hoje por ela passa.

Casas com alma esquecidas deveriam ser preocupação de quem hoje tanto se empenha em lançar betão em qualquer metro quadrado que exale a lucro fácil e rápido.

Casas com Alma Esquecida
Muito poderá ser feito se sociólogos e historiadores também queiram contribuir para a recolha de informação destas casas com alma esquecida espalhadas pela cidade de Lisboa, e em conjunto com os arquitectos da autarquia (que são em grande número) demonstrem interesse para as reconstruirem, reabilitarem e devolverem à sociedade de forma a poderem ser de novo orgulhosamente úteis e habitáveis.

No Sótão da Gina fica a inquietação e o sabor amargo de tanto para dizer, tanto para fazer e de repente até é resolvido por qualquer chinês que compra uma destas casas com alma esquecida e a devolve à sociedade, falando um idioma que ainda não dominamos mas que a par e passo nos vai dominando o nosso quotidiano.
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